Desaniversário


Eu acredito que, em alguns casos, ao invés das pessoas perderem o precioso tempo – elemento que fica cada vez mais raro conforme vamos envelhecendo – mandando mensagens, ligando ou mesmo (para os mas efusivos) encontrando a pessoa que completou uma volta ao redor do Sol pisando este solo, o correto seria que esse mesmo ser entrasse em contato com todos, se desculpando e dizendo algo igualmente convencional, como “meus pêsames”. Este é um desses casos.

Novamente, chegamos no dia de comemorar (?) o nascimento do membro deste blog que ocupa mais espaço, tanto física quanto efusivamente.

Para ser sincero, eu não tenho muita certeza do porquê de tal comemoração. Do nosso lado, a chegada desse dia partilhando da presença do dito cavalheiro, demonstra a nossa incapacidade de nos livrarmos dele até o momento. Por outro lado, o recebimento de nossas saudações, da parte dele, demonstra que ele continua e, muito provavelmente, continuará sendo alvo de bullying por algum tempo. E, acredite, não tem velinha de bolo ou de sete dias que seja capaz de alterar essa realidade.

Engraçado pensar que se acendiam velas e davam presentes para os aniversariantes a fim de afastar os demônios enquanto, hoje em dia, comemoramos a presença de demônios ainda piores.

Já que a desgraça total é um fato, espero (afinal, somos treinados e obrigados a desejar alguma coisa, seja ela qual for, nessas ocasiões) que você passe o dia acreditando ser alguém especial e com a ilusão de que a sua força gravitacional aumentou a tal ponto que você se veja rodeado de pessoas, satélites, planetas, galáxias...

Sendo assim, que os demônios não te carreguem ainda para o mundo espiritual e que o seu deus guardião pessoal te traga alívio para o mal que eu irei te causar ainda durante algum tempo. Sinta-se muito feliz por ter pessoas que suportam a tua presença e saiba que esse é o seu maior presente (definitivamente não é pouca coisa).

Agora, chega de perder meu tempo com isso...

O ciclo

Podemos analisar o egoncentrismo de um indivíduo no momento em que se completa um ciclo, determinado por um dia e mês específico para cada cidadão que esta Terra habita (a não ser os Testemunhas de Jeová), pois este momento é aquele marco infeliz onde ninguém se importa, a não ser você mesmo.


Podemos imaginar neste momento Henrique, dormindo em sua cama, coberto com seu edredon dos Ursinhos Carinhosos, planejando todos os passos do dia seguinte, imaginando se finalmente naquele ano sua mãe contrataria Patati & Patatá para animar a festa, e qual de seus coleguinhas lhe trariam uma bola quadrada.


O dia passa e o momento do evento comemorativo se aproxima. Como toda convenção social, o ritual básico se repete. O aniversariante deve estar presente para receber os convidados - até mesmo os que ele não gosta - e fingir modéstia ao ganhar um presente, seguido da frase “Ah, que isso, não precisava se preocupar...”


Mas nada da bola quadrada...


Após a recepção, ninguém mais lembra de você. Está preocupada com os comes e bebes até o momento crucial. o “parabéns”.


Aqueles ínfimos segundos onde você tem a sensação de que as pessoas lembram que você existe - mesmo que todo mundo cante parabéns olhando para o teto, para os docinhos em cima da mesa, ou para o bolo, tendo a certeza de pedir aquela parte que não foi cuspida ao assoprar a bendita vela.


Neste âmbito enrolético, aproveito o ensejo para praticar um momento que a convenção social determina, para que não haja retaliações comunitárias num futuro próximo (ou não).


Desta forma, demonstro meu apreço a este ser com minhas congratulações por mais este ciclo determinado se sua vida que se completa.


Na verdade, acho que eu deveria só escrever “Parabéns!” no Facebook e pronto...